Existem dezenas de maneiras pelas quais os cromossomos humanos podem ser muito mais complexos do que XX e XY. Nem todas essas variações resultam em uma condição intersexo, e muitas se manifestam apenas no início da puberdade. Listamos alguns exemplos dessas variações para ilustrar como diferenças cromossômicas não determinam necessariamente o gênero de alguém.
Tratamos de diversas das condições abaixo em maior detalhe em nosso artigo sobre as Causas da disforia de gênero, onde recorremos a estudos clínicos sobre condições intersexo para explicar a formação dos aspectos neurológicos e comportamentais do gênero em humanos.
As informações entre parênteses a seguir indicam respectivamente o número total de cromossomos no material genético, e quais são os cromossomos sexuais da pessoa com determinada condição.
- A Síndrome de De la Chapelle (46, XX) ocorre quando o gene SRY (responsável pela formação de pênis e testículos) do espermatozóide passa para um espermatozóide não portador de Y durante a espermatogênese. Quando o óvulo e o espermatozóide se fundem, resulta em um embrião XX com um gene SRY, que deve se desenvolver como uma criança fenotipicamente masculina com dois cromossomos X.
- A Síndrome de Swyer (46, XY) produz uma criança fenotipicamente feminina com cromossomos sexuais XY. Isso pode resultar de diversas condições genéticas diferentes, incluindo ausência ou defeito dos genes SRY, CBX2 (o que impede o caminho bioquímico desencadeado pela proteína TDF), ou ainda problemas na síntese das proteínas SF-1 ou DHH.
- A Disgenesia Gonadal (46, XX) é muito semelhante à Síndrome de Swyer, exceto que ocorre em crianças XX e resulta em ovários não funcionais.
- A Síndrome de Turner (45, X) produz uma criança fenotipicamente feminina com numerosas anormalidades. Ocorre quando algum dos cromossomos X ou Y não está presente no esperma do pai.
- A Síndrome de Klinefelter (47, XXY) resulta em uma criança fenotipicamente masculina com traços mais femininos. Em casos extremamente raros, também aparece em crianças designadas do sexo feminino, resultando em testículos feminizados em vez de ovários.
- A Síndrome XXXXY (49, XXXXY), variante da síndrome de Klinefelter, é frequentemente fatal, mas quando não é, sempre resultará em uma criança estéril.
- Trissomia X (47, XXX), Tetrassomia X (48, XXXX) e Pentassomia X (49, XXXXX) resultam em uma criança do sexo feminino, mas com problemas de saúde bastante graves.
- A Síndrome XXYY resulta em crianças fenotipicamente masculinas (devido a dois genes SRY), que muitas vezes experimentam hipogonadismo, precisando de suplementos de testosterona.
- O Mosaicismo ocorre quando algumas células do corpo têm um conjunto de cromossomos e outras células têm outro devido a uma mutação do genoma durante a gestação. Pode ser XX / XY (resultando em um conjunto duplo de órgãos genitais), X / XY (uma forma mais branda das síndromes de Swyer ou Turner) ou XX / XXY (uma forma mais branda da síndrome de Klinefelter).
- O Quimerismo ocorre quando dois embriões fertilizados se fundem em um zigoto, fazendo com que partes do corpo da pessoa contenham dois conjuntos de DNA diferentes. Isso pode resultar em um ser humano completamente típico de fenótipo masculino ou feminino, até mesmo capaz de produzir descendentes, porém essa pessoa apresenta resultados diferentes em testes de cariótipo com base em onde a amostra foi coletada em seu corpo. Em casos extremamente raros, isso pode resultar em dois conjuntos completos de órgãos reprodutivos.
- A Hiperplasia adrenal congênita (HAC) tipicamente resulta na masculinização dos órgãos genitais em uma criança XX devido à hiperatividade das glândulas adrenais. Sem tratamento os níveis de testosterona de pessoas com essa condição podem aumentar em determinados momentos, resultando em uma virilização.
- A Síndrome de Insensibilidade aos Andrógenos (SIA) é uma resistência total ou parcial a andrógenos, o que impede a masculinização de todos os órgãos, exceto nos testículos, em uma criança XY.
- A Deficiência de 5-alfa-redutase (5ARD) impede ou diminui o processo de metabolização da testosterona em dihidrotestosterona (DHT). Isso resulta em um bebê XY com um clitóris largo, que acaba sendo designado como do gênero feminino ao nascer. Porém, durante a puberdade esse clitóris cresce significativamente, os testículos descendem e o corpo da pessoa começa a se masculinizar.
- A Deficiência de aromatase causa masculinização de uma criança XX devido aos níveis excessivos de testosterona. O excesso de testosterona pode inclusive afetar a mãe durante a gestação.
- A Síndrome de excesso de aromatase causa feminização em uma criança XY, já que a testosterona é convertida em estrogênio.
17:45 – 19 de dezembro de 2019