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Cirurgias de redesignação sexual masculinizantes

Também chamadas de cirurgias de afirmação de gênero, transgenitalizantes, ou de reconstrução genital, cirurgias de redesignação sexual masculinizantes são intervenções cirúrgicas que visam ao conforto da pessoa trans na sua relação com seus órgãos genitais. Há uma série de opções de procedimentos para homens trans e pessoas AFAB não binárias que sofrem de disforia genital. Tais procedimentos podem ir da remoção de partes ou do todo de seu aparelho sexual (a vaginectomia e a histerectomia) o que pode ou não ser seguido de outras intervenções que visam alcançar a sensibilidade e aparência de um pênis, como a faloplastia e a metoidioplastia. 

Histerectomia

A histerectomia é a cirurgia de remoção do útero e colo do útero. Histerectomias são normalmente feitas em conjunto com a salpingo-ooforectomia bilateral (explicadas abaixo), mas podem ser feitas independente de outros procedimentos.

A remoção do útero previne futuras menstruação e gravidez; ela é necessária se o indivíduo busca a vaginectomia, pois o canal vaginal é a única via de escape para qualquer fluido proveniente do útero.

A Histerectomia pode ser feita das seguintes formas:

Histerectomia Abdominal

Um corte é feito no abdômen para acessar o útero. É o método mais invasivo e com maior tempo de recuperação necessário, além de poder deixar uma cicatriz do corte. Esse método é contra-indicado para indivíduos que buscam faloplastia abdominal.

Histerectomia Vaginal

O útero é acessado através do canal vaginal, pelo qual o órgão é retirado. O acesso pode não ser possível se o canal estiver severamente atrofiado, o que pode ocorrer pela ação prolongada da testosterona.

Histerectomia Laparoscópica

Com a ajuda de pequenas câmeras, o cirurgião faz duas a quatro pequenas incisões no abdômen para cortar o útero, que pode ser retirado por via vaginal ou em pedaços pequenos pelas próprias incisões. É o método menos invasivo.

Salpingectomia e Ooforectomia

A salpingectomia consiste na retirada das trompas, e a ooforectomia é a retirada dos ovários. Normalmente feitas juntas, essas cirurgias podem ser unilaterais (em que se retira apenas a trompa e o ovário de um dos lados) ou bilaterais (remoção de ambos ovários e/ou ambas trompas).

A remoção dos ovários corta a produção de hormônios femininos do corpo, o que permite ao indivíduo em terapia hormonal de testosterona reduzir sua dose. Isso também impedirá o paciente de ter uma gravidez no futuro. Caso a pessoa queira ter filhos com seu próprio material genético é recomendado que seja feito o congelamento de óvulos antes do procedimento.

Os ovários podem ser mantidos, servindo como uma fonte natural de hormônios sexuais, caso o indivíduo não consiga ou não queira continuar com a terapia hormonal para sempre. As trompas também podem ser removidas sem retirada dos ovários, o que faz com que a pessoa perca a capacidade de engravidar, sem interferir na produção natural de hormônios sexuais.

Vaginectomia

Vaginectomia é um procedimento médico realizado para remover toda ou parte da vagina. O método mais comum para as cirurgias transgenitalizadoras é a colpocleise, onde a mucosa vaginal é removida (ablação) e é feita a fusão do canal interno. A abertura do canal também pode ser fechada para criar um períneo masculino.

Metoidioplastia

A metoidioplastia é basicamente a transformação do clítoris em um pênis. Com terapia hormonal de testosterona, o clítoris geralmente aumenta de tamanho, chegando a um comprimento de em média 2.5-5cm. Esse ganho de tamanho auxilia na operação.

Na metoidioplastia simples, o clítoris tem seus ligamentos cortados para ter movimento mais livre.

Em operações mais complexas, ele pode ter sua posição mudada para ficar mais à frente e/ou acima, ficando em uma posição masculina mais natural. Tecido da lábia menor pode ser utilizado para aumentar um pouco a circunferência. Com uretroplastia, é possível redirecionar a uretra para que se possa urinar utilizando esse pênis.

Os resultados da meto são muito mais dependentes da anatomia original do indivíduo. O pênis em si vai ficar geralmente do mesmo tamanho e aparência do megaclítoris. Embora haja raros exemplos de crescimento clitoriano que passa de 5-6cm, a maioria das pessoas que buscam essa cirurgia devem esperar um micropênis bem parecido com o que já possuem, só que reposicionado para ser mais acessível.

O pênis da metoidioplastia possui a mesma capacidade de ereção do megaclítoris e seu prepúcio pode ser mantido.

Faloplastia

A faloplastia, ou neofaloplastia, é um procedimento inicialmente criado para homens cisgênero que perderam o falo por lesão ou outros motivos. Ela faz uso de retalhos de outras partes do corpo para criar o neofalo. Com uretroplastia, o falo pode ser utilizado para urinar em pé, e com ligações de nervos é possível conseguir sensações tanto táteis quanto eróticas.

Os retalhos podem ser feitos das seguintes áreas:

Antebraço

O antebraço pode ser usado para construir um pênis com tamanho pequeno a mediano, normalmente sem muita gordura.

Coxa

O pênis feito a partir da coxa, em geral é bem “gorducho” devido à maior concentração de gordura na pele local. Podem ser necessitadas revisões futuras para tirar o excesso de gordura. A coxa tem maior versatilidade para aqueles que querem um falo maior.

Abdômen

Este foi o primeiro método testado e continua em uso hoje com algumas variações. Deixa cicatrizes menores, mas também pode acumular gordura assim como o falo vindo da coxa. Pode não ser possível para indivíduos que passaram por cirurgias abdominais que envolveram cortes grandes (como cesariana e histerectomia abdominal).

Dorsal

O pênis construído a partir do retalho dorsal possui mais firmeza e permite maior liberdade na escolha de tamanhos, porém a sensibilidade sensorial tende a ser menor.

As cirurgias de faloplastia são complexas, normalmente sendo segmentadas em várias fases para reduzir os riscos e facilitar a recuperação. Dependendo da pele utilizada para a neouretra e a preferência do indivíduo, pode ser necessário tratamento com laser ou eletrólise no local doador para retirar os pelos e não ficar com uma uretra ou pênis cabeludo. No Brasil, ainda são consideradas cirurgias de caráter experimental e só podem ser feitas em alguns hospitais universitários, com poucos cirurgiões aptos a realizarem a operação.

Glansplastia

A construção de uma glande peniana no topo do falo, deixando a aparência inicial de um “tubo” mais parecida com a aparência de um pênis circuncisado.  

Uretroplastia

Uma operação possível tanto na metoidioplastia como na faloplastia, a uretroplastia utiliza enxertos de pele ou mucosa para aumentar o comprimento da uretra e redirecionar o fluxo urinário para poder passar pelo novo pênis. Esse procedimento, tem uma chance considerável de causar algumas complicações, como fístulas e estenose da uretra. 

Implante Peniano

O falo construído a partir dos procedimentos de faloplastia não é capaz de ter ereções, embora algumas técnicas possam fazer com que o falo seja mais firme do que outras. Para atividade sexual, os indivíduos com neofalo podem utilizar brinquedos sexuais para manter a sua posição ou fazer cirurgia de implante peniano, com implantes maleáveis e infláveis disponíveis. Estes implantes em geral precisam ser substituídos ao longo dos anos.

Escrotoplastia

A escrotoplastia é uma operação onde os grandes lábios (labia majora) são reformados em forma de um saco escrotal. Também podem ser colocados os implantes testiculares, que são réplicas de testículos feitas de silicone utilizados para providenciar volume e preenchimento ao saco escrotal.

Tatuagem

É possível tatuar áreas de cicatrizes para escondê-las, ou tatuar o neofalo para lhe dar uma aparência mais natural, como por exemplo desenhar veias aparentes e tornar a glande pós-glansplastia mais rosada. A tatuagem é recomendada para conferir a aparência de prepúcio em um neofalo sem glansplastia.

Custos

Os profissionais envolvidos nessas cirurgias incluem ginecologista/obstetrícia (para histerectomia e/ou vaginectomia), urologista, cirurgião plástico, instrumentadores e anestesiologistas.

Os custos variam muito de acordo com as operações que o indivíduo vai ou não fazer, tempo de estadia em hospital, opção por implantes e necessidade de revisões, além da possível necessidade de viajar para os locais de cirurgia.

Uma histerectomia pode chegar a custar entre R$10.000 e R$18.000, porém, ela consta no rol da ANS e deve ser coberta por plano de saúde mediante prescrição médica, esse procedimento também está incluso no parecer 26/2021 da ANS como parte do processo transexualizador e, portanto, é obrigatória a cobertura.

Uma faloplastia no Brasil custa algo entre 40 a 60 mil reais, porém a cobertura por planos de saúde para essa cirurgia não é obrigatória pelo fato da cirurgia ainda estar em caráter experimental no Brasil.